De como o jornalista Vladimir Herzog prendeu, torturou e assassinou o ditador brasileiro, Ernesto Geisel, no quartel-general do II Exército
Jorge Vital de Brito Moreira
Quando era menino e aprendia as primeiras letras na escola primária, li numa cartilha escolar uma frase simples, bonita e evidente que descrevia a natureza dos galináceos. A descrição dizia: “De grão em grão a galinha enche o papo”.
Atualmente leio a variação desta frase na descrição da sociedade brasileira do governo de Jair Bolsonaro. “De estupidez em estupidez, o Brasil esvazia o papo” racional, científico (fundado em evidências) da modernidade ocidental, para entupí-lo de ignorância, corrupção, dogma e obscurantismo medieval.
Esta frase foi emitida por um professor brasileiro depois de ouvir o papo (um diálogo) entre dois alunos de uma escola de alfabetização de adultos no estado do Rio de Janeiro.
E este é o diálogo (ou papo) que foi escutado entre os dois alunos, o evangélico José (um vendedor de carne na feira local) e seu amigo João (um trabalhador da construção civil) também evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus.
José: - Como vai João? Tudo bem?
João: Tudo bem. E você? Quais são as novidades?
José: Acabei de ver na TV, o presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Educação falarem que não houve golpe militar em 1964, nem ditadura militar no Brasil naquele tempo. Eles falaram que não houve prisão, nem tortura, ou assassinatos de trabalhadores, estudantes ou jornalistas.
João: - E o que você aprendeu de toda essa conversa das autoridades do Brasil?
José: - Na verdade fiquei um pouco tonto e meio confuso depois da fala do Jair Bolsonaro na TV. Antes, quando era jovem, quando eu não sabia ler ou escrever, tinha escutado que houve um golpe militar contra o governo do presidente João Goulart. Tinha escutado que a ditadura (dos generais Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Medici, Ernesto Geisel, João Figueireido) durou por mais de 20 anos.
Antes eu tinha escutado, por exemplo, que o jornalista brasileiro da TV Cultura, Wladimir Herzog, foi preso, torturado e assassinado nas instalações do DOI-CODI, no quartel-general do II Exército, no município de São Paulo, pelos torturadores do general Ernesto Geisel. Agora finalmente, eu poderei escrever na minha cartilha escolar, a nova e verdadeira historia brasileira.
João: - Que verdade e que história, José?
José: - Que o general do exercito Ernesto Geisel foi preso, torturado e assassinado nas instalações do DOI-CODI, no quartel-general do II Exército, no município de São Paulo pelos torturadores do jornalista brasileiro da TV Cultura, Wladimir Herzog.
Foi depois desse estranho e surpreendente diálogo (inspirado no “samba do crioulo doido”), que o professor brasileiro emitiu a frase: “De estupidez em estupidez, o Brasil esvazia o papo” racional, científico (fundado em evidências) da modernidade ocidental, para entupí-lo de ignorância, corrupção, dogma e obscurantismo medieval do governo Bolsonaro.
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